Mudanças, rompimentos, fases...desfechos desfeitos, promessas partidas ao meio...pôsters na parede, gato aos pés da cama...vinis sem vitrola, paixão sem destinatário...e o sol ainda entra pela janela e aquece sua pele toda manhã. É quando ela percebe que, apesar de toda sua incompletude, ainda está viva.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
Receita de Família
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- Ah vó, será que eu estou fazendo a coisa certa?
Dona Fá, como todos a chamavam desde moça, sem parar de peneirar a farinha com o carinho e leveza de quem não tem pressa, riu largo e gostoso:
- Filha, pára de se preocupar...tem coisa nessa vida que é melhor não pensar, melhor não saber, que a gente tem que só fazer e esperar o resultado.
- Mas vó, casamento é coisa séria e...
- Ah, sério é o amor filha, isso sim é coisa séria, sério é viver! Eu se tivesse pensado não tinha casado com seu vô....até por que fui obrigada né? Você sabe.
- Mas a senhora foi feliz? Porque eu que escolhi casar com o Luís vivo brigando com ele, quem dirá se fosse obrigada. A senhora viu ontem a encrenca que deu por casa das flores da igreja?
- Eu vi e morri de rir...vocês jovens têm a mania de brigar por tudo. Parece até que só têm relacionamentos pra poder discuti-los....se vocês soubessem como tudo é tão fácil. Vocês cobram muito de vocês mesmos e procuram a felicidade nos outros...eu fui feliz com seu vô porque com ele pude ter tranqüilidade e conforto...e ele me deu uma família. Demorou uns três anos de casada pra eu gostar dele, mas ele gostava de mim, e me respeitava, pra que eu ia querer mais? A gente tem que ser feliz junto com o outro, e não por causa do outro Nina, você entende?
- Mais ou menos vó, eu gosto tanto dele que tenho medo de perdê-lo...
- Mas tudo nessa vida uma hora se vai! Até os filhos que geramos crescem e buscam outros lugares...mas antes disso nós aproveitamos muito cada minuto com eles, ensinamos e aprendemos, e guardamos no coração tudo de bom que eles nos trazem...até que eles nos dão netos e...
E, então, nesse momento Nina percebeu que Dona Fá trazia os olhos marejados e pensou em tudo o que aquela velha senhora tinha vivido, em tantas lembranças que se escondiam nos vincos de sua face e nos nós de seus dedos...e, finalmente, notou que a vida poderia ser mais leve se tivesse mais coragem de vivê-la...e girando o enfeite dos noivos entre os dedos percebeu que não poderia fazer o mesmo com seu destino....
- Nina, começa agora a parar de pensar na vida! Vem aqui me ajudar a terminar o bolo que só falta o fermento pra ele crescer bem bonito!
Juliana R. Sanchez
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Ao Inominável - II
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Juliana R. Sanchez
Imagem de Alyssa Monks, Hold, 2006, Oil in Linen.
Ao Inominável - I
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Juliana R. Sanchez
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Ouço...
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Los Hermanos - Pois É (Marcelo Camelo)
Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
avisa que é de se entregar o viver
Pois é, até
Onde o destino não previu
Sem mais, atrás vou até onde eu conseguir
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar
Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
avisa que é de se entregar o viver
Pois é, até
Onde o destino não previu
Sem mais, atrás vou até onde eu conseguir
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar
Deixa pra amanhã (Caleidoscópio)
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Tenho observado. Procurado a medida das coisas. Buscado quantificar o impossível. Fazer uma leitura do improvável. Tranquei-me no sótão. Fechei portas e janelas. Tirei o telefone do gancho. "Não estou para ninguém", dizia a placa ao lado de fora. Do lado de dentro faço companhia a mim mesma. O silêncio vem para mostrar quem sou. O vazio vem entorpecer as idéias. Curvo-me sobre meu ser. Sou pedaços. Cacos de um vitral. Figura caleidoscópica que reflete a luz e produz a sombra. Escuridão que corrompe os sentimentos. Queria ter um pouco de Khalo, reproduzir em cores intensas o incômodo. Queria ter um pouco de Remedio, transformar em arte o que muitos tentam reproduzir com números. Queria ser um pouco de Pagu, provocar e instigar. Queria ser um pouco Florbela, traduzir em palavras a paixão que nos deixa mudos. Queria ser forte. Tento sê-lo. Sou porcelana fina e fria, que estremece ao toque e quebra ao cair. Sou pedaços que alguém reuniu para outrem destruir.
Juliana R. Sanchez
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Picadeiro do caos
Nunca gostei de palhaços. Não sei exatamente o porquê de tanto ódio direcionado a esses seres com suas caras pintadas, suas calças bufantes e seus sapatos exageradamente grandes.
As lembranças de infância que incluem essa figura circense são de muito medo. Acho que esse excesso de alegria, essa fantasia lúdica, sempre foi surreal demais para minha imaginação.
Constantemente me questionava: "Quanta tristeza se esconde atrás da tinta?". É impossível ser feliz o tempo inteiro. É improvável contentar-se em fazer o outro rir, voltar para o camarim, retirar toda a suposta alegria da cara, e jantar sopa rala com pão duro e, ainda assim, ser feliz... ninguém pode ser tão altruísta. Acho que, na verdade, sinto pena do palhaço. Suponho que ele deva sofrer em fazer tanta gente feliz, sem nunca receber algo em troca.
Juliana R. Sanchez
As lembranças de infância que incluem essa figura circense são de muito medo. Acho que esse excesso de alegria, essa fantasia lúdica, sempre foi surreal demais para minha imaginação.
Constantemente me questionava: "Quanta tristeza se esconde atrás da tinta?". É impossível ser feliz o tempo inteiro. É improvável contentar-se em fazer o outro rir, voltar para o camarim, retirar toda a suposta alegria da cara, e jantar sopa rala com pão duro e, ainda assim, ser feliz... ninguém pode ser tão altruísta. Acho que, na verdade, sinto pena do palhaço. Suponho que ele deva sofrer em fazer tanta gente feliz, sem nunca receber algo em troca.
Juliana R. Sanchez
E agora, Doutor?
Mas, convenhamos, quem é realmente saudável hoje em dia? Pois foi durante essa consulta, rotineira, que descobri que sofro de um mal grave, gravíssimo, hiperbolemente gravíssimo. Sofro de uma doença congênita no coração, confirmada após diversos exames.
E a maldita doença tem nome e sobrenome: Desvio de Fluxo na Bulha 2, também conhecida como sopro. O médico, esforçado, devo reconhecer, tentou exaustivamente me explicar o que era aquela doença, o que causava, mostrando num frio, duro e ignóbil coração de plástico a localização da famigerada...mas, foi inútil.
A dúvida acerca do mal que me acometia persistiu, até que minha irmã, com toda a sabedoria de seus 16 anos, iluminou minha mente com uma explicação simplória: "Jú, seu coração é brizado!"....simples assim.
Ora, isso explica tantas coisas! Justifica tantos erros, tantas falhas, tantas frases antecipadas, mal-ditas, malditas e mal-elaboradas!
Simples, meu coração é congenitamente chapado. Tapado mesmo! E essa doença traz cada consequência!
Uma delas, talvez a mais grave, é que não possuo filtro. Falo tudo o que sinto na hora que bem entendo.
Infelizmente, certas palavras ditas, como as flechas lançadas, não podem ser recuperadas...pior ainda, as vezes retornam e causam dores incomensuráveis.
Cada vez que elas voltam e me fazem sentir a dor que causo, penso: "da próxima vez será diferente, da próxima vez terei mais cautela"...mas minha doença é congênita, meu mal não tem cura...
Juliana R. Sanchez
Procura-se!!!
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Cadê o sorriso que estava aqui?
Cadê?
Ele surgia tão constantemente,
Até mesmo gratuitamente!
Agora, não sei onde se esconde.
Procurei dentro de mim, lá no fundo,
Só achei vazio, só achei o escuro.
Ele costumava iluminar minh'alma,
sem ele resta o limo abissal...
Cadê o sorriso que estava aqui?
Cadê?
Fugiu com sei-lá-quem,
Foi pra longe!
Tá se escondendo de mim
Sei lá onde!
Sumiu daqui sem mais nem porquê.
Sumiu daqui sem mais nem porquê.
Juliana R. Sanchez
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Que bicho vai dar!
Poder postar as confusões da minha mente irreversivelmente perturbada talvez seja um alívio!
Compartilhar dúvidas, inseguranças, incertezas, alegrias, enfim, todos os sentimentos que constantemente dominam minha vida!
Colocar para fora o turbilhão de idéias que, muitas vezes, chega como uma onda que me pega desprevenida e me leva looonge!
Mas quero escrever de forma despretensiosa. Não quero procurar no dicionário palavras que tornem meu texto mais rebuscado, não pretendo caçar idéias, discutir política, metafísica ou o sexo dos anjos! Simplesmente quero deixar fluir as idéias, vomitar sentimentos e expor meus pensamentos!
Juliana R. Sanchez
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