sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Deixa pra amanhã (Caleidoscópio)

Como disse Kundera "a mulher moderna divide-se em duas: uma metade observa, a outra metade vive."

Tenho observado. Procurado a medida das coisas. Buscado quantificar o impossível. Fazer uma leitura do improvável. Tranquei-me no sótão. Fechei portas e janelas. Tirei o telefone do gancho. "Não estou para ninguém", dizia a placa ao lado de fora. Do lado de dentro faço companhia a mim mesma. O silêncio vem para mostrar quem sou. O vazio vem entorpecer as idéias. Curvo-me sobre meu ser. Sou pedaços. Cacos de um vitral. Figura caleidoscópica que reflete a luz e produz a sombra. Escuridão que corrompe os sentimentos. Queria ter um pouco de Khalo, reproduzir em cores intensas o incômodo. Queria ter um pouco de Remedio, transformar em arte o que muitos tentam reproduzir com números. Queria ser um pouco de Pagu, provocar e instigar. Queria ser um pouco Florbela, traduzir em palavras a paixão que nos deixa mudos. Queria ser forte. Tento sê-lo. Sou porcelana fina e fria, que estremece ao toque e quebra ao cair. Sou pedaços que alguém reuniu para outrem destruir.
Juliana R. Sanchez

Um comentário:

Rafael Guerreiro disse...

Quando fala em Remedios, bem, transpõe todas as possibilidades fisicamente previsíveis. Portanto, prefiro manter-me mudo quanto ao que pensa e o que sente, mas sei que algo virá à tona.